Traficantes ordenaram que todos voltassem para casa até 12h
Comércio amanheceu fechado apesar da presença da UPP PM reforçou a
segurança com 100 militares de outras UPPs
Pais retiram alunos de escola no Alemão após tráfico ordenar toque de recolher
RIO Cerca de 11.400 crianças foram prejudicados pelo toque
de recolher imposto pelo tráfico no Complexo de Alemão, Zona Norte do
Rio, nesta quinta-feira. Alunos da Escola Estadual Jornalista Tim Lopes
relataram que traficantes ordenaram que todos voltassem para casa até as
12h. O toque de recolher teria sido imposto depois da morte de um
traficante na noite desta quarta-feira na localidade de Areal. Mais
cedo, havia sido informado que o total era de 3.500, mas a prefeitura
atualizou os dados à noite. Catorze escolas e sete creches, municipais e
estaduais, tiveram as portas fechadas. O comércio amanheceu fechado
apesar da presença da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Com isso,
as ruas da comunidade ficaram desertas. Nas favelas da Chatuba e Parque
Proletário, na Vila Cruzeiro, as lojas também não abriram as portas. A
PM reforçou a segurança com 100 militares de outras UPPs. Moradores,
motoristas e motociclistas estão sendo revistados nos acessos às
favelas. Dois suspeitos haviam sido presos até o fim desta manhã.
De
acordo com informações de moradores, a ordem para fechar o comércio
teria partido do tráfico após a morte de um traficante. A polícia, no
entanto, não acredita que a morte de Anderson Simplício de Mendonça,
conhecido como Orelha, na noite de quarta-feira, teria sido o motivo do
fechamento. O comandante da Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP),
coronel Paulo Henrique de Morais, disse que todo o setor de
inteligência da Secretaria de Segurança está tentando confirmar um boato
de que o traficante Luciano Martiniano da Silva, o Pezão, chefe do
tráfico no Complexo do Alemão, teria morrido no Paraguai. Essa
informação, segundo o comandante, teria sido o real motivo do fechamento
do comércio nos complexos do Alemão e da Penha. Para o coronel, fechar o
comércio somente pela morte do Orelha seria algo desproporcional para o
comportamento da comunidade, uma vez que ele era apenas o gerente da
localidade conhecida como Grota.
Uma estudante da
escola Tim Lopes, que não quis se identificar, contou que moradores da
Grota foram ameaçados de ficar no meio de um fogo cruzado caso não
obedecessem ao toque de recolher. Depois de o comércio ter fechado as
portas, alguns pais correram até o colégio para buscar os filhos. Houve
tumulto, já que, assustados, os alunos saíram das salas e foram para o
pátio.
No entanto, eles foram impedidos de sair da
escola pela diretora, que trancou as portas do colégio dizendo que só os
deixaria sair acompanhados dos pais ou responsáveis. Uma das mães que
estava do lado de fora arrombou a porta e conseguiu entrar no colégio,
retirando a filha à força. Foi quando os alunos correram em direção ao
portão de entrada e saíram da escola. Depois do tumulto, o colégio foi
totalmente esvaziado.
Em nota, a Secretaria estadual
de Educação informou que as aulas na Escola Estadual Jornalista Tim
Lopes foram suspensas no turno da manhã por medida de segurança. O mesmo
aconteceu nas escolas Gomes Freire de Andrade, na Penha, e Caic
Theophilo de Souza Pinto, em Bonsucesso. Na três unidades, cerca de 1,5
mil alunos foram prejudicados. De acordo com a secretaria, os conteúdos
perdidos serão repostos.
A Secretaria municipal de
Educação disse, também em nota, que uma escola da rede e seis creches da
região não funcionaram porque os alunos não compareceram. Nesta
unidades, estão matriculados 1.986 alunos. Já as escolas localizadas no
Complexo da Penha funcionaram normalmente.
Comércio amanhece de portas fechadas
Alguns
comerciantes, que chegaram a abrir as portas, encerraram as atividades
por volta das 9h30m. Dezenas de lojas na Rua Joaquim de Queirós estão
fechadas. O mesmo cenário se repete na Avenida Central. Na Avenida Nossa
Senhora da Penha, um dos acessos à Vila Cruzeiro, as lojas nem sequer
chegaram a abrir. De acordo com o prorprietário de uma malharia,
motoqueiros teriam passado no início da manhã avisando que o comércio
deveria ficar fechado nesta quinta.
Pela manhã, na
Favela Nova Brasília, no Complexo do Alemão, dois supostos traficantes
foram presos. Segundo policiais da Unidade de Polícia Pacificadora, que
efetuaram as prisões, eles estavam mandando comerciantes da comunidade
fecharem as portas. Os suspeitos foram levados pra 22ª DP (Penha). De
acordo com o coordenador da UPP, Paulo Henrique de Morais, a ação seria
mais uma tentativa do tráfico de desestabilizar a UPP.
Carros
da Polícia Militar patrulham a Avenida Itararé, no entorno do conjunto
de favelas. Além disso, há carros da PM parados em alguns pontos, como a
Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Alemão, a Escola Estadual
Jornalista Tim Lopes e a Rua Joaquim de Queirós, um dos principais
acessos à comunidade.
Confronto na noite de quarta deixou traficante morto
Na
noite desta quarta-feira, Orelha, de 29 anos, morreu durante um
confronto entre criminosos e policiais da UPP nas localidades conhecidas
como Cufa e Areal. Na ação, foram apreendidos um revólver, dois
carregadores para fuzil e munições. O tiroteio aconteceu por volta das
21h depois que policiais do Regime Adicional de Serviço (RAS) se
depararam com um grupo de suspeitos, que conseguiu fugir depois do
confronto. Um carro da PM acabou atingido por tiros. Segundo os agentes,
o local onde ocorreu a troca de tiros é considerado estratégico por
ligar diversas comunidades.
Anderson foi baleado na
localidade de Areal, a poucos metros de onde ocorreu o confronto. Ele
chegou a ser socorrido para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do
Alemão, mas não resistiu aos ferimentos. Segundo a PM, ele não estava
com documentos.
Após a troca de tiros, os bandidos
fugiram para a Rua Joaquim Queiroz, considerada uma das mais importantes
no complexo. Com quatro quilômetros de extensão, a via corta várias
comunidades. A ocorrência foi registrada na 22ª DP (Penha).