Já em sua terra-natal, Mikkel compartilhou a decepção no Facebook, acusando o governo de promover uma "limpeza social" para gringo ver
Assim como milhares de jornalistas em todo o mundo, Mikkel Jensen
sonhava cobrir a Copa do Mundo no Brasil. Mas depois de dois meses em
Fortaleza, no Ceará, o repórter independente da Dinamarca desistiu e
voltou para casa na última segunda-feira. Já em sua terra-natal, Mikkel
compartilhou a decepção no Facebook, acusando o governo de promover uma
"limpeza social" para gringo ver.
![Mikkel Jensen sonhava cobrir a Copa do Mundo no Brasil](https://lh3.googleusercontent.com/blogger_img_proxy/AEn0k_v6Gyqnp19OxqB9TXDw-L3kY7RxdZl5NRV5SkmOE-xuiLFuyBW8HfmAHCia9lpl0AerbOFK1ajbJyl-qBJFnScHQ8YHTJpOnfcFk9RYtk_UUEBgF1dbSToG40JBN5Bh-m9bI1E2KaMrA1s1YrmqJue9It_hSe4FWXMVGqxo4KHrTUj9Lsyacy2EjjRO-_3IzbF9qOMeDYIF=s0-d)
“O
sonho se transformou em um pesadelo. Durante cinco meses, fiquei
documentando as consequências da Copa. Existem várias: remoções, forças
armadas e PMs nas comunidades, corrupção, projetos sociais fechando. Eu
descobri que todos os projetos e mudanças são por causa de pessoas como
eu – um gringo e também uma parte da imprensa internacional. Eu sou um
cara usado para impressionar”, escreveu Mikkel em seu Facebook.
No
relato, Mikkel conta que se preparou por dois meses e meio, veio ao
país com antecedência, para ter contato com a cultura local e aprender
Português. Durante a última estada, no entanto, se deparou com histórias
tristes, como a de um menino de rua, Allison, que teria lhe oferecido
ajuda.
“Um cara com uma vida muito difícil. Ele não tinha nada –
só um pacote de amendoins. Quando nos encontramos ele me ofereceu tudo o
que tinha, ou seja, os amendoins. Esse cara, que não tem nada, ofereceu
a única coisa de valor que tinha para um gringo que carregava
equipamentos de filmagem no valor de R$ 10 mil e uma Master Card no
bolso. Incredível. (sic) Mas a vida dele está em perigo por causa de
pessoas como eu. Ele corre o risco de se tornar a próxima vítima da
limpeza que acontece na cidade de Fortaleza”, escreveu.
O caso
ganhou repercussão em seu país e veículos da imprensa local abordaram o
assunto com destaque. Seu post na rede social já teve mais de 13 mil
compartilhamentos. No Brasil, o caso também ganhou repercussão. Embora a
maioria dos brasileiros concorde com Mikkel, há também quem defenda o
país e se preocupe com a imagem negativa que ele está tendo lá fora. No
Facebook, muitas pessoas apoiaram a iniciativa do repórter.
Confira o texto de Mikkel Jensen na íntegra:
"Quase
dois anos e meio atrás eu estava sonhando em cobrir a Copa do Mundo no
Brasil. O melhor esporte do mundo em um país maravilhoso. Eu fiz um
plano e fui estudar no Brasil, aprendi Português e estava preparado para
voltar.
Voltei em setembro de 2013. O sonho seria
cumprido. Mas hoje, dois meses antes da festa da Copa eu decidi que não
vou continuar aqui. O sonho se transformou em um pesadelo.
Durante
cinco meses fiquei documentando as consequências da Copa. Existem
várias: remoções, forças armadas e PMs nas comunidades, corrupção,
projetos sociais fechando. Eu descobri que todos os projetos e mudanças
são por causa de pessoas como eu – um gringo e também uma parte da
imprensa internacional. Eu sou um cara usado para impressionar.
Em
Março, eu estive em Fortaleza para conhecer a cidade mais violenta a
receber um jogo de Copa do Mundo até hoje. Falei com algumas pessoas que
me colocaram em contato com crianças da rua e fiquei sabendo que
algumas estão desaparecidas. Muitas vezes, são mortas quando estão
dormindo a noite em área com muitos turistas. Por que? Para deixar a
cidade limpa para os gringo e a imprensa internacional? Por causa de
mim?
Em Fortaleza eu encontrei com Allison, 13 anos, que
vive nas ruas da cidade. Um cara com uma vida muito difícil. Ele não
tinha nada – só um pacote de amendoins. Quando nos encontramos ele me
ofereceu tudo o que tinha, ou seja, os amendoins. Esse cara, que não tem
nada, ofereceu a única coisa de valor que tinha para um gringo que
carregava equipamentos de filmagem no valor de R$10.000 e uma Master
Card no bolso. Incredível.
Mas a vida dele está em
perigo por causa de pessoas como eu. Ele corre o risco de se tornar a
próxima vítima da limpeza que acontece na cidade de Fortaleza.
Eu
não posso cobrir esse evento depois de saber que o preço da Copa não só
é o mais alto da historia em reais e centavos – também é um preço que
eu estou convencido incluindo vidas das crianças.
Hoje,
vou voltar para Dinamarca e não voltarei para o Brasil. Minha presença
só está contribuindo para um desagradável show do Brasil. Um show, que
eu dois anos e meio atrás estava sonhando em participar, mas hoje eu vou
fazer tudo o que estiver ao meu alcance para criticar e focar no preço
real da Copa do Mundo do Brasil.
Alguns quer dois ingressos para França – Equador no dia 25 de Junho?
Mikkel Jensen - jornalista independente do Dinamarca e correspondente em Rio de Janeiro."
“O sonho se transformou em um pesadelo. Durante cinco meses, fiquei documentando as consequências da Copa. Existem várias: remoções, forças armadas e PMs nas comunidades, corrupção, projetos sociais fechando. Eu descobri que todos os projetos e mudanças são por causa de pessoas como eu – um gringo e também uma parte da imprensa internacional. Eu sou um cara usado para impressionar”, escreveu Mikkel em seu Facebook.
No relato, Mikkel conta que se preparou por dois meses e meio, veio ao país com antecedência, para ter contato com a cultura local e aprender Português. Durante a última estada, no entanto, se deparou com histórias tristes, como a de um menino de rua, Allison, que teria lhe oferecido ajuda.
“Um cara com uma vida muito difícil. Ele não tinha nada – só um pacote de amendoins. Quando nos encontramos ele me ofereceu tudo o que tinha, ou seja, os amendoins. Esse cara, que não tem nada, ofereceu a única coisa de valor que tinha para um gringo que carregava equipamentos de filmagem no valor de R$ 10 mil e uma Master Card no bolso. Incredível. (sic) Mas a vida dele está em perigo por causa de pessoas como eu. Ele corre o risco de se tornar a próxima vítima da limpeza que acontece na cidade de Fortaleza”, escreveu.
O caso ganhou repercussão em seu país e veículos da imprensa local abordaram o assunto com destaque. Seu post na rede social já teve mais de 13 mil compartilhamentos. No Brasil, o caso também ganhou repercussão. Embora a maioria dos brasileiros concorde com Mikkel, há também quem defenda o país e se preocupe com a imagem negativa que ele está tendo lá fora. No Facebook, muitas pessoas apoiaram a iniciativa do repórter.
Confira o texto de Mikkel Jensen na íntegra:
"Quase dois anos e meio atrás eu estava sonhando em cobrir a Copa do Mundo no Brasil. O melhor esporte do mundo em um país maravilhoso. Eu fiz um plano e fui estudar no Brasil, aprendi Português e estava preparado para voltar.
Voltei em setembro de 2013. O sonho seria cumprido. Mas hoje, dois meses antes da festa da Copa eu decidi que não vou continuar aqui. O sonho se transformou em um pesadelo.
Durante cinco meses fiquei documentando as consequências da Copa. Existem várias: remoções, forças armadas e PMs nas comunidades, corrupção, projetos sociais fechando. Eu descobri que todos os projetos e mudanças são por causa de pessoas como eu – um gringo e também uma parte da imprensa internacional. Eu sou um cara usado para impressionar.
Em Março, eu estive em Fortaleza para conhecer a cidade mais violenta a receber um jogo de Copa do Mundo até hoje. Falei com algumas pessoas que me colocaram em contato com crianças da rua e fiquei sabendo que algumas estão desaparecidas. Muitas vezes, são mortas quando estão dormindo a noite em área com muitos turistas. Por que? Para deixar a cidade limpa para os gringo e a imprensa internacional? Por causa de mim?
Em Fortaleza eu encontrei com Allison, 13 anos, que vive nas ruas da cidade. Um cara com uma vida muito difícil. Ele não tinha nada – só um pacote de amendoins. Quando nos encontramos ele me ofereceu tudo o que tinha, ou seja, os amendoins. Esse cara, que não tem nada, ofereceu a única coisa de valor que tinha para um gringo que carregava equipamentos de filmagem no valor de R$10.000 e uma Master Card no bolso. Incredível.
Mas a vida dele está em perigo por causa de pessoas como eu. Ele corre o risco de se tornar a próxima vítima da limpeza que acontece na cidade de Fortaleza.
Eu não posso cobrir esse evento depois de saber que o preço da Copa não só é o mais alto da historia em reais e centavos – também é um preço que eu estou convencido incluindo vidas das crianças.
Hoje, vou voltar para Dinamarca e não voltarei para o Brasil. Minha presença só está contribuindo para um desagradável show do Brasil. Um show, que eu dois anos e meio atrás estava sonhando em participar, mas hoje eu vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para criticar e focar no preço real da Copa do Mundo do Brasil.
Alguns quer dois ingressos para França – Equador no dia 25 de Junho?
Mikkel Jensen - jornalista independente do Dinamarca e correspondente em Rio de Janeiro."
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