Do Morro da Mineira para o estrelato na Superliga

Melhor saque do torneio pelo Rio do Sul, Alessandra Neneca aproveita a folga para voltar à comunidade onde ainda vive com a mãe e vira exemplo a ser seguido

Rio -  A batalha pela vida, para quem nasce na favela, muitas vezes passa pelo futebol. Mas no Morro da Mineira, Desde 2005 jogando no vôlei brasileiro, a atacante Alessandra Neneca virou o exemplo a ser seguido.
“Foi difícil”, lembra a mãe, Dona Yara, 49 anos, empregada doméstica. “Muitas vezes faltava o da passagem para ela treinar”, diz ela, hoje com uma vida até confortável, graças à filha. “Minha prima Michele insistia para eu ir ao Tijuca Tênis Clube, mas eu sempre fugia. Um dia ela me levou para ficar pegando bolas e deu no que deu”, conta Neneca, que defenderá o Sesi-SP na próxima temporada.

Alessandra imita o gesto do saque, que lhe deu um prêmio na Superliga de 2012: críticas à falta de incentivo ao esporte nas comunidades | Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia

Dona do melhor saque da Superliga feminina em 2012, ela mostra suas medalhas e troféus com muita honra. E está comprando um terreno no alto da comunidade para construir uma casa junto com sua irmã. Neneca nao é só uma grande jogadora. É, também, muito bonita, fato que aproveita para fotografar como modelo.
“Eu joguei a Superliga do ano passado pelo Rio do Sul, de Santa Catarina. Aí fotografei para um catálogo de joias. Ficou bem bonito”, diz, acrescentando que, este ano, vai começar a cursar Design de Moda em São Paulo, onde começa a morar a partir do fim do mês. “Vou tentar uma bolsa”.
Enquanto a bolsa não vem, Neneca ajuda a mãe com as despesas de casa e curte a irmã e a prima Maria Eduarda, de 14 anos, que segue seus passos na escolinha de Vôlei do Bernardinho, na comunidade. “Faço gosto dela seguir carreira”, diz ela, orgulhosa.
'Há crianças prontas para serem atletas, mas sem oportunidade'
Quem entra hoje numa das comunidades pacificadas do Rio não escapa da observação: os moradores, cada vez mais, questionam as UPPs por conta da ausência da invasão social que deveria vir junto. Na Mineira não é diferente. Para Neneca, o potencial esportivo da comunidade, incluindo São Carlos e Querosene, está subavaliado.
“Vejo meninos e meninas prontos para se transformarem em atletas, mas sem qualquer oportunidade”, lamenta a atacante que, em parte, deve seu sucesso a um ‘anjo’ que a financiou no início de tudo, como diz sua mãe, Dona Yara. “Claro que a pacificação melhorou muito a vida, mas falta incentivo. Se tem alguém fazendo isso (incentivando), a cabeça da garotada fica ocupada com coisas boas”, defende.
Neneca diz que, se não fosse o vôlei, estaria como muitos da comunidade: “batalhando pela vida”.
Até quando será assim?